Por Vivianne Nunes
“Minha
história daria bem para escrever um livro”. Foi assim que Luciana Maria da
Conceição, 40 anos, deu início ao relato sobre a vida e a partida do seu
pequeno Jonathan da Conceição, 12 anos, diagnóstico de paralisia cerebral
grave, hidrocefalia e outras enfermidades que o acometeram durante o parto
devido ao que ela chama de erro de médico. “Ele foi um milagre de Deus”, conta
Luciana, ainda sentida pela morte do filho no dia 20 de dezembro do ano
passado.
A
cozinheira relata que teve uma gestação de risco, que tinha ameaças de aborto e
por conta disso precisou tomar remédios. “Eu já tinha uma menina e sempre quis
um menino, quando o médico me falou que eram dois, nossa, eu fiquei muito
feliz”, conta Luciana. Acontece que um dos bebês veio à óbito ainda no ventre e
isso pode ter causado a infecção generalizada que atingiu Jonathan ao nascer.
“Isso e algumas coisas que os médicos poderiam ter feito para livrar meu filho
e não fizeram”, lamenta.
Luciana
tem a narrativa de uma história triste de vida, mas cheia de luta, garra e
acima de tudo, de fé. “Eu estava me arrumando para casar quando peguei meu
noivo na traição. Eu nem sabia que estava grávida. Mandei ele embora e desde
então, nunca mais falei com ele”, conta. “E eu amei meu Jonathan desde o
princípio. Eles seriam Jonatas e Jonathan, mas eu perdi um e dediquei toda
minha vida ao outro”, explicou.
Durante
nossa conversa, na casa de Luciana, uma companheira não deixou o colo dela.
Sofia, a pintscher que era do Jonathan acompanhava tudo com os ouvidos grudados
na conversa. “A Sofia era dele, sempre muito carinhosa, agora não descola de
mim”.
No
Cotolengo, instituição de Caridade que atende crianças como o Jonathan, ele era
um dos queridinhos. “Nem posso falar isso, porque la eles todos são tratados de
maneira igual, eu sei isso porque vivenciei doze anos la dentro. Mas o Jonathan
tinha uma coisa de cativar as pessoas que era muito fora do comum, ele era
alegre, tinha suas limitações mas era muito alegre”, conta a mãe disfarçando as
lágrimas que ainda teimam em rolar.
Logo
que Jonathann completou dois anos, Luciana se casou com João Carlos Dias, hoje
com 49 anos. “Ele sim foi o pai do Jonathan, verdadeiramente. Ele sempre me
ajudou muito, levava o menino para as fisioterapias, buscava, carregava no
colo. Ele está sofrendo muito com a perda do nosso Jonathan, tanto que nem me
deixou ainda doar as coisinhas dele que estão no quarto. O Carlos diz que o
Jonathan foi a única pessoa que o amou de verdade”, relata. Sobre o coração surrado
de mãe, Luciana diz que ainda sofre muito, mas que está lutando para não entrar
em depressão. “Deus tem me ajudado muito. Tenho um testemunho muito forte com
relação à vida do Jonathan porque, pelo diagnóstico médico, ninguém conseguia
explicar como ele ainda estava vivo. Tudo nele era difícil, era limitado.
Sempre fui devota do Sagrado Coração de Jesus e no dia em que ele estava na UTI
neo natal eu fiz minhas preces e vi a imagem do Sagrado Coração no vidro do
berçário. Foi o que me deu força e a certeza de que meu filho sobreviveria”,
conta a devota.
Hoje
o silêncio da casa ainda incomoda muito o coração da mãe e do pai de Jonathan,
mas ela diz que se apega à vontade de Deus para entender e aceitar tudo. “Ele
estava prestes a fazer uma cirurgia que seria muito dolorosa pra ele, uma
cirurgia na bacia que o médico disse que não saberia como ele iria reagir”,
conta. Luciana lembra ainda que acordou mais cedo do que o nornal na madrugada
do dia 20. Ela estava preparando uma festa de fim de ano para as crianças da
comunidade carente no bairro Nova Lima, onde moram, por isso levantou para
preparar as coisas. Ia fazer bolos, cachorro-quente, o que já era tradição para
alegrar o natal das crianças mais necessitadas. No entanto, não participou da
festa. “Tinha pelo menos uns dez anos que o Jonathan não tinha convulsões e
quando entrei no quarto ele estava convulsionando. Meu Deus, ainda bem que eu
acordei mais cedo ou não teria visto meu filho uma última vez. Eu e meu marido
o levamos de carro para o hospital pois não daria tempo de esperar o Samu, mas
lá ele não resistiu e o perdemos”, relata.
Apesar
de todo o sofrimento, Luciana diz que insiste em participar das ações do
Cotolengo como maneira de orientar as outras mães. “Não é porque não tenho mais
meu filho que não vou fazer nada pelas outras pessoas e eu sei que muitas não
têm instrução sobre os direitos que os pequenos têm junto à Justiça. Tento de
todas as maneiras ajudar as mãezinhas sobre isso já que eu fiz tudo o que
estava ao meu alcance pra atender ao meu filho”, finaliza.
"Peço perdão à Deus todos os dias caso eu tenha falhado em alguma coisa" |
No
quarto, boa parte das coisas já foram doadas mas a maioria ainda está lá. O
berço, os adesivos na parede e os penduricalhos no teto remetem aos cuidados de
uma mãe zelosa, sempre presente e cheia de amor à vida daquele menino especial.
“Eu não tive mãe, cresci com parentes, não sei o que é ter mãe e peço perdão à
Deus todos os dias caso eu tenha falhado em alguma coisa com meus filhos, mas
eu sei que eu fiz por eles tudo o que eu poderia ter feito. Hoje ela se
contenta com as lembranças e com a certeza de que o filho hoje descansa no colo
do Senhor.
Linda história, e um lindo amor desta mãe com seu filho e parabéns a esta instituição que mantém este trabalho de muita importância
ResponderExcluirLinda história, e um lindo amor desta mãe com seu filho e parabéns a esta instituição que mantém este trabalho de muita importância
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